Com as eleições de 2018 se aproximando, muitas perguntas começam a aparecer na cabeça da população. Votar de maneira consciente é essencial para o bom andamento da democracia, por isso, buscar informações de qualidade e desenvolver um raciocínio crítico acerca dos atuais eventos na política brasileira faz toda a diferença na hora da votação. 
 
É pensando nessa temática que conversamos com o professor Emerson Rocha, dos cursos de Pós-Graduação em Filosofia, Sociologia e Ciência Política da Estácio. O docente trouxe explicações para alguns dos temas polêmicos na atualidade. Acompanhe! 
 
 
P: Professor, levando em consideração o cenário presente, muito conturbado na política tanto interna quanto externa, quais serão as principais dificuldades enfrentadas pelo sucessor do presidente Michel Temer ?
 
R: O fato de termos uma polarização muito grande na política hoje, dificulta qualquer governo. Isso é muito complicado para qualquer sucessor, pois o nosso sistema político, baseado no presidencialismo de coalizão, exige do presidente uma base muito forte no congresso para conseguir governar de maneira eficiente. Esse novo presidente, seja ele quem for, deve ser um candidato com a habilidade de criar um consenso, uma agenda comum sobre os principais temas relevantes para a sociedade. É difícil, quem assumir precisa ter a habilidade de criar um ambiente favorável para o debate e acalmar os ânimos. Sem resolver essa premissa, governar fica inviável. 
 
P: E como você enxerga a desistência do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa para a presidência da república? Quais os prováveis motivos que o levaram a desistir da candidatura ? 
 
R: Embora ele não tenha mencionado abertamente o motivo, eu acredito que o perfil dele é diferente do perfil de um político. Existe, hoje, uma afronta à figura do político. O discurso do “gestor” passa a adquirir uma imagem melhor. Eu discordo disso, já que o político apresenta algumas características próprias que o gestor não necessariamente possui. Se ele conseguir ser os dois, ótimo, melhor ainda, mas o político tem a habilidade de conversar com diversos grupos, agregar várias pessoas, motivá-las em torno de uma determinada causa e, talvez, o Joaquim Barbosa tenha percebido que ele não possui essas qualidades. O fato de uma pessoa ter combatido muito bem a corrupção, não a qualifica para ocupar o principal cargo do executivo, é um mundo diferente com desafios distintos. 
 
P:  Você mencionou, no começo da entrevista, essa característica presente no ambiente político brasileiro que é a forte polarização no debate. Como essa questão pode influenciar na disseminação das Fake News, tão discutidas?
 
R: Bom, eu sou adepto da frase “em tempos de guerra, a primeira vítima é a verdade”. Acredito que essa atmosfera facilita e amplia a disseminação de Fake News, mas, infelizmente, ainda há grande parte dos partidos engajados nessa prática, muitos, inclusive, contratam empresas de assessoria para fazer isso. Não é nada novo, entretanto, as novas mídias contribuíram para esse crescimento. A solução, na minha opinião, passa por uma punição mais forte do Ministério Público Federal (MPF)  e Supremo Tribunal Eleitoral (STE) nos candidatos que utilizarem esse tipo de estratégia para promoverem suas campanhas. Caso contrário, eu não acredito que haverá uma diminuição, é bem provável que as eleições de 2018 estarão contaminadas por notícias falsas. 
 
P: A última pesquisa realizada pelo Instituo Datafolha surpreendeu pelo elevado número de votos brancos e nulos, um patamar inédito em pesquisas eleitorais a seis meses da votação. Como explicar esse fato?
 
R: Hoje, é trivial falar isso, mas as pessoas estão muito desmotivadas em relação a política. Muitas denúncias de corrupção apareceram e, por outro lado, poucos cidadãos se identificam com a ideologia de um determinado partido político ou candidato. Dessa forma, grande parte da população perde o interesse de votar e acreditar no sistema político, o que é muito ruim, pois a única maneira de transformar a realidade é por meio da política, não tem outro caminho. No passado, o branco e o nulo eram os votos de protestos. Hoje, eu diria que o branco e o nulo são os votos da desesperança. 
 
Entrevista por Gabriel Magalhães