Professor Raul Fonseca. Mestre em marketing e comunicação. Divide a coordenação dos cursos de Pós em MBA e Pós em Marketing e Comunicação com o professor Delci Lima. 


`A base de nossos governos, sendo a opinião do povo, o primeiro objetivo deve ser o de manter esse direito; e se fosse deixado para eu decidir se devemos ter um governo sem jornais ou jornais sem um governo, não hesitaria um momento a preferir o último. ` Thomas Jefferson (1757).

Em 14/07/2010, repórteres, editores e leitores do Jornal do Brasil, publicado no Rio de Janeiro há mais de um século, ficaram sabendo, através de comunicado inserido na edição dessa data, que ela seria a última versão impressa do jornal, que passaria, então, a ser disponibilizado somente pela Internet, com preço fixado de R$ 9,90 por assinatura para os leitores online.  

O jornal do Brasil foi fundado em 1891, por Rodolfo de Souza Dantas, originário da monarquia recém-deposta em nosso país, mas comprometido em trabalhar pela consolidação da República fundada na mesma ocasião (SODRE, 1983). Contando com grandes nomes do jornalismo nacional como Joaquim Nabuco, Oliveira Lima, Ulisses Viana – o Barão de Rio Branco – entre outros, o Jornal do Brasil foi um marco importantíssimo na história do jornalismo impresso brasileiro, e, em 2010, deixava as bancas para ser lido somente através dos meios digitais.  

A notícia foi recebida como um fechamento rapidamente destacado por comentaristas da mídia como sendo parte de uma tendência global, com as circulações em declínio, e, consequentemente, com a queda das receitas de publicidade responsáveis pela sustentação financeira da mídia impressa. No bojo da mudança do Jornal do Brasil para a plataforma online, várias publicações seguiram a mesma tendência, além disso, a Internet já vinha convergindo todas as mídias e a maioria absoluta das revistas e jornais impressos já tinham seus sites e algum tipo de versão online.

O que estava acontecendo no Brasil, já havia acontecido nos Estados Unidos, e se espalhado para o Reino Unido. Neste país, mais de 100 títulos de jornais locais e regionais foram fechados diretamente, outros suspenderam temporariamente a publicação, ou se consolidaram através da fusão com outros jornais, criando títulos unificados. 

Parte desses fechamentos e a redução das tiragens impressas foi consequência da crise e da recessão econômica de 2007/2008, mas os especialistas levantaram questões importantes sobre o próprio potencial dos jornais impressos sobreviverem frente ao desenvolvimento das novas tecnologias, a pressão dos ecologistas em relação à origem do papel, e o hábito de leitura e consumo de meios digitais, já amplamente difundidos. 

Os críticos se perguntavam em voz alta se os dias do jornal impresso estavam contados, e as projeções mais otimistas consideravam que o jornal assumiria rapidamente outro formato, abandonando definitivamente suas edições em papel e tinta de impressão. 

Muitos jornalistas de respeito citavam números de vendas em declínio e um padrão constante de crescimento de leitores de jornal online para suas notícias, e manifestavam a crença que apenas alguns jornais poderiam continuar a existir na sua forma impressa. 

Somente jornais com um alcance global como Folha de São Paulo e Estadão – no Brasil – e The New York Times e The Wall Street Journal – nos Estados Unidos – em uma extremidade do espectro, e jornais locais que circulam semanalmente ou no máximo duas vezes por semana, na outra extremidade, poderiam revelar-se viáveis nesse formato, mas, assim mesmo, com tempo contado até 2043 ou 2044 (Mayer, 2009). Embora alguns possam estar prontos para escrever obituários dos jornais, discordando apenas do quanto tempo vai demorar, é preciso lembrar que os jornais permanecem até hoje importantes e relevantes, porque eles são os únicos meios de comunicação que se concentram principalmente em notícias e jornalismo fomentando a opinião pública, já que a televisão dedica tempo significativo da sua programação ao entretenimento, e o rádio à prestação de serviços. 

É preciso lembrar que no mundo inteiro, os jornais impressos continuam a ser uma das principais fontes de notícias para os cidadãos. De qualquer forma, as novas tecnologias abriram outra perspectiva para o jornalismo, e a internet passou a ser o meio de maior capacidade para absorver grande parte da mão de obra especializada na produção de notícias, seja com exclusividade na redação online, seja dividindo a produção entre mídia impressa e matérias para a Web. Mas, essa nova forma de atuação também trás novos desafios para os jornalistas.

O profissional de jornalismo atual precisa escrever o conteúdo para vários formatos, como impresso, Web, blogs etc., saber utilizar diversas ferramentas multimídias, como recursos de texto, imagem, som e animação para meios eletrônicos, e estar preparado para produzir mais conteúdo do que nunca. Lidar com mudanças constantes de áreas de cobertura e reportagens, trabalhando em ambiente econômico incerto, porque as demissões estão acontecendo em todo o lugar. 

Isso também significa ter que fazer mais com menos, isto é, há muito mais trabalho para aqueles que permanecem trabalhando. Adaptar-se às novas mídias e redes sociais, como Facebook, Youtube, Orkut, Twitter, Linkedin, Google+, MySpace, Foursquare, Instagram, competindo contra outros mercados para produzir melhores narrativas e conteúdo, adaptando-se ao clima global de notícias, porque a Internet está no ar 24 horas por dia, 7 dias por semana. 

Essas competências revelam novos desafios, exigem especialização em jornalismo digital e traçam o novo perfil do jornalista 2.0, que precisa saber processar e filtrar as informações recebidas ou coletadas em banco de dados, encontrar informações necessárias dos representantes de relações públicas, assessores de imprensa e salas de imprensa online, além de gerenciar com eficiência o relacionamento com as fontes para o desenvolvimento contínuo das narrativas jornalísticas.



Referências
SODRÉ, Nelson Werneck. A história da imprensa no Brasil. São Paulo, Martins Fontes, 1983.
MEYER, Philip. Os Jornais podem desaparecer?  São Paulo, Contexto, 2009.